quarta-feira, 27 de abril de 2011

A sensualidade poética de Florbela Espanca

A bela Florbela Espanca
A poetisa Florbela Espanca nasceu  Flor Bela Lobo, em Vila de Viçosa, em Portugal, em 8 de Dezembro de 1894. Filha de Antônia da Conceição Lobo e de seu patrão, João Espanca, Florbela só recebeu o nome paterno quase 20 anos depois de sua morte, a pedido de seus amigos e fãs, os chamados "Florbelianos", que praticamente exigiram que ele desse seu nome à poetisa.
Florbela Espanca começou a escrever aos 9 anos. De vida polêmica,  casou-e muito cedo, aos 19 anos, período em que entrou para a Faculdade de Direito de Lisboa, curso que não chegou a concluir. Divorciou-se e logo depois casou novamente, divorciando-se de novo e voltando a casar-se. Florbela casou-se ainda  mais uma vez, desta feita com um médico.
A poesia de Florbela caracteriza-se pela recorrência dos temas do sofrimento, da solidão, do desencanto, aliados a uma imensa ternura e a um desejo de felicidade e plenitude que só poderão ser alcançados no absoluto, no infinito. A veemência passional da sua linguagem, marcadamente pessoal, centrada nas suas próprias frustrações e anseios, é de um sensualismo muitas vezes erótico. Simultâneamente, a paisagem da charneca alentejana está presente em muitas das suas imagens e poemas, transbordando a convulsão interior da poetisa para a natureza.Florbela Espanca não se ligou claramente a qualquer movimento literário. 
Está mais perto do neo-romantismo e de certos poetas de fim-de-século, portugueses e estrangeiros, que da revolução dos modernistas, a que foi alheia, embora tenha vivido o auge deste movimento na década de 20. Pelo caráter confessional, sentimental, da sua poesia, segue a linha de António Nobre, fato reconhecido pela poetisa. Por outro lado, a técnica do soneto, que a celebrizou, é, sobretudo, influência de Antero de Quental e, mais longinquamente, de Luis de Camões.
Florbela morreu jovem, em 1930, aos 36 anos, segundo os médicos de edema pulmonar.  A poetisa viveu os últimos anos de sua vida doente, principalmente afetada em seu psicológico desde que seu irmão Apeles Demóstenes Espanca, com quem  a poetisa tinha uma relação muito forte,  morreu em acidente de avião, em 1927.
Poetisa de excessos, cultivou exacerbadamente a paixão, com voz marcadamente feminina (em que alguns críticos encontram dom-joanismo no feminino). A sua poesia tem suscitado interesse contínuo de leitores e investigadores. É tida como a grande figura feminina das primeiras décadas da literatura portuguesa do século XX. Aos navegantes e seguidores deste Blog,  dois belos poemas em forma de sonetos: "Fanatismo" e "Amor que morre", onde Florbela Espanca pôe a sua sensibilidade e sensualidade quase erótica. Ah, o poema Fanatismo foi musicado na década de 80 pelo cantor e compositor Raimundo Fagner.

Fanatismo

Minhálma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és se quer razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!

"Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, digo de rastros:
"Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: Princípio do Fim!..."
 
Amor que morre
 
O nosso amor morreu... Quem o diria!
Quem o pensara mesmo ao ver-me tonta,
Ceguinha de te ver, sem ver a conta
Do tempo que passava, que fugia!

Bem estava a sentir que ele morria...
E outro clarão, ao longe, já desponta!
Um engano que morre... e logo aponta
A luz doutra miragem fugidia...

Eu bem sei, meu Amor, que pra viver
São precisos amores, pra morrer,
E são precisos sonhos para partir.

E bem sei, meu Amor, que era preciso
Fazer do amor que parte o claro riso
De outro amor impossível que há-de vir

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